Desde março de 2020, muitos conhecidos já ficaram na sala de espera de uma UTI ou de um CTI, esperando notícias de um parente querido internado com Covid. Grande parte destas pessoas que conheci disseram que mudaram suas vidas após esta experiência. Literalmente, viram que a vida realmente é uma só e que, muitas das vezes, não terão tempo para se despedir de quem amam e muito menos para pedir perdão. Quem teve a sorte de se recuperar do Covid viu que a vida é muito frágil para não serem gratos agora. Seja a pessoa que se recuperou do Covid e teve mais uma chance na vida, seja o parente que ficou dias na porta do hospital, a maioria destas pessoas, possivelmente, aprendeu que a vida é curta demais e que precisam amar mais, reclamar menos e agradecer sempre.

A sala de espera da UTI é um local onde todos os dias, num horário fixo, várias famílias passam a se conhecer, trocam suas histórias, seus lamentos e medos. Viram uma grande família, uma torcendo pela melhora do familiar alheio; e isso é muito mágico, pois demonstra como o ser humano, no momento da dor, torna-se tão companheiro, compreensível e prestativo.

Em fevereiro deste ano, minha mãe, Maria Eni Vargas, ficou por quase trinta dias dentro de um hospital. É simplesmente aterrorizante como uma pessoa saudável chega a ficar totalmente inválida em uma cama após ter Covid na forma grave. Somente quem trabalha na área de saúde ou quem presenciou algum parente no leito de um hospital, por causa do Covid, sabe exatamente do que estou falando. A pessoa perde simplesmente seus movimentos, suas forças e se torna incapaz de se colocar em pé, por alguns minutos, sem precisar de oxigênio e ajuda. É imaginável o que este vírus faz com um ser humano.

Nesses quase trinta dias que estive diariamente no hospital para ter notícias da minha mãe, eu conheci a porta da tristeza e da dor. Esta porta dá acesso aos leitos do UTI ou CTI. Após um parente passar por esta porta, entrando, pode acontecer, infelizmente, de ser a última vez que você o verá.

Presenciei, nestes dias no hospital, muitos filhos não conseguirem se despedir de seus pais; é muita dor num único local. Tudo acontece tão rapidamente que as pessoas não têm tempo de assimilar nada; como um filho que não conseguia compreender como que o seu pai com apenas cinquenta anos e que estava apenas alguns dias atrás cuidando da roça poderia estar morto? Como uma mãe que estava em casa feliz e saudável, em apenas quatro dias estaria entubada? Conheci uma pessoa incrível que perdeu, num único mês, seu sogro e sua mãe; e um dos casos que mais me chocou foi de um senhor de mais de oitenta anos que chegou aflito ao hospital, pois sua mulher havia chegado minutos antes de ambulância e ele disse: eu só queria me despedir… E é a mais dura realidade: não dá tempo de nos despedirmos. Poucos terão a sorte de reencontrar o ente querido.

 

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