2023 – O ano da resiliência

Júlio Damião*

Quando o ano se inicia, muitas empresas e profissionais fazem planos de melhorias e traçam metas, esperando, principalmente, que os cenários interno e externo sejam propícios a investimento e resultados positivos.

Já tivemos este ano dois eventos de impacto, a invasão da Praça dos Três Poderes, que deve ser punido exemplarmente, e a derrocada da Americanas, em que todos tentaram entender como em apenas 12 dias uma empresa de mais de 90 anos de existência apresenta um “rombo” de R$ 20 bilhões e entra em recuperação judicial. Desde o ano da Covid, a forma de fazer negócios mudou, o mundo está mais complexo, rápido, turbulento e incerto, e isso serve para as multinacionais e para as micro e pequenas empresas.

Fazendo uma retrospectiva, em 2020 tivemos a Covid, a incerteza entre empresas e governos mostrou que ninguém estava preparado para esta situação. Em 2021, vimos o retorno da economia e a falsa certeza das empresas e governos de que tudo tinha passado (até porque o ano de comparação foi 2020, base muito baixa). Em 2022, os resultados negativos das empresas demonstraram que o impacto da Covid e a guerra entre Rússia e Ucrânia seriam grandes desafios para crescer e obter lucros, problemas logísticos, a volta da inflação mundial e os juros altos se consolidaram neste ano.

Estamos em 2023, todos os riscos financeiros estão mais evidentes na economia. O Brasil e mundo ainda estão com previsões de crescimento baixos e a China tem sofrido com a volta dos casos de Covid, tendo um crescimento menor desde 2016.

Estar preparado é fundamental, importante, então, entender o que o ano de 2023 está nos mostrando. Quais são os principais desafios para que possamos passar por este período de recessão.

1 – Aprendam a conviver com o dólar alto e com uma volatilidade acima da média em períodos curto de tempo. Para preservar o caixa, as empresas precisam “travar” o dólar, ou seja, negociar com o banco para que a taxa seja fixa no momento da importação. Assim, a empresa terá previsibilidade no fluxo de caixa e não impactará na liquidez. Sem caixa, as empresas “morrem”.

2 – Os juros altos vieram para ficar, aumentando o custo do dinheiro e impactando a despesa financeira das empresas. No terceiro trimestre de 2022, muitas empresas sofreram com os juros, diminuindo o lucro ou tendo prejuízos. Este ano ensinará às empresas a importância da gestão estratégica da dívida, debêntures, follow-on, aumento de capital e empréstimos bancários, são ações que devem ser pensados com muito cuidado. Errar neste cálculo resultará em grandes prejuízos.

3 – Ter um fluxo de caixa positivo é o “nome do jogo”. 2023 cobrará a importância da liquidez como forma de sobrevivência e oportunidades. Não adianta ter faturamento, estrutura grande e escalada se no final da linha o resultado é negativo. Ter uma despesa maior do que a receita é um caminho rápido para o precipício. O ditado “Caixa é rei” deveria ser modificado para “O Caixa é o único rei que não pode ser deposto”.

4 – Este ano será fundamental a precificação correta dos produtos e serviços, fazendo a análise dos custos e da estratégia de comunicação, tendo como resultado a venda com lucro. Aqui, o posicionamento do seu produto no mercado é fundamental. Se o consumidor não perceber valor no seu produto ou serviço, ele vai brigar por preço, diminuindo a sua margem. Se a empresa oferecer um produto de qualidade, o cliente pagará mais e você poderá manter ou aumentar as margens, obtendo lucro.

5 – Se tem uma coisa que 2023 ensinará, será ter as pessoas certas nas empresas. Nunca gente excelente foi tão valorizada e “buscada” no mercado. O problema não é conseguir mudar a estratégia, é fazer com que ela seja feita corretamente, no prazo certo e com o custo certo. Ter um planejamento correto e uma execução fraca não te levará a lugar nenhum. Pense: você gostaria de ter um piloto ou copiloto do avião despreparado? É exatamente quando vem a turbulência que precisamos de pessoas experientes.

6 – 2023 nos mostrará que grandes países que antes dominavam o PIB mundial terão problemas de crescer (EUA, Europa e China) e que a guerra como conhecemos e estudamos (nos livros de Hitler) está a apenas 11 horas de voo de São Paulo. A guerra da Rússia e Ucrânia vai completar 1 ano.

Entenda: 2023 nos desafiará, empresas e profissionais. Teremos que lidar com o mundo mais conectado, com maiores ruídos, com maiores riscos econômicos, ambientais e socias e com o aumento da incerteza. Quem conseguir se preparar, sairá melhor deste momento de recessão e saberá aproveitar as oportunidades do mercado, e serão muitas.

O Brasil terá um grande futuro se fizer as reformas (tributária e administrativa). Já somos fortes no agronegócio, temos muitas oportunidades na indústria e no comércio, se agirmos da forma certa, conseguiremos crescer o mercado interno e atingir mais espaço internacionalmente. Acredito no Brasil, é um dos poucos países que tem mais de 200 milhões de habitantes, uma democracia consolidada e um mercado interno de grandes oportunidades. Tenho confiança de que avançaremos, o povo brasileiro é resiliente.

2023 já começou. Está preparado?

*Presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de Minas Gerais (Ibef-MG)

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Fonte: Diário do Comércio

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