Quando criança, a maioria das minhas amigas sonhavam em se casar, algumas sonhavam em ter filhos e outras sonhavam apenas em trabalhar. Já tive amigas que sonhavam em ser delegada, aeromoça, modelo, médica, veterinária e, um dia, achar um príncipe encantado, casar e ter filhos… A maioria das minhas amigas conseguiram, são felizes em seus castelos com seus príncipes.

Mas não conheci ninguém na minha infância, adolescência e nem na fase adulta que sonhou em ser madrasta. Acho que seria loucura demais para alguém jovem querer um pesadelo deste.

Seria de uma insanidade desejar: Quero encontrar um homem divorciado, bem mais velho do que eu, que tenha uma despesa fixa com a família anterior, que não seja da idade dos meus amigos e que tenha filhos que jamais irão me tolerar. Quero um homem que me traga mais problemas que soluções e que me renda boas sessões de terapia! Isto é um pesadelo! Ninguém sonha com isso. Ninguém!

 Quando nos casamos, não pensamos, em um primeiro momento, que iremos nos separar; as separações acontecem por motivos totalmente alheios à nossa vontade. Grande parte dos relacionamentos dão muito certo e na verdade não podemos julgar que um casamento que durou poucos anos não deu certo: na verdade deu certo por um determinado período de tempo, apenas não durou até a morte de um dos cônjuges. Mas nem todos têm escolhas acertadas, ou até mesmo sorte, e a vida de muitos casais tomam caminhos tão diferentes que, em curto espaço de tempo, encontram-se divorciados.

 

Faz parte da natureza humana querer estar ao lado de alguém, e não é porque você se separou, seja o motivo qual for, que você será condenado a viver sozinho para sempre. Infelizmente, a quantidade de divórcios tem aumentado, e com isso está se tornando natural as pessoas refazerem suas vidas afetivas e se casarem pela segunda vez. E toda pessoa, ao procurar um novo relacionamento, pelo menos tenta achar alguém “leve e solto”. Embora o amor quando chega para valer é “firme e forte”. Ele derruba seus planos e muitos dos seus sonhos.

 

E quando o seu novo “príncipe encantado” já tem seus próprios filhos, será a vez de saber como madrasta se você tem sorte ou azar na vida. A maioria das madrastas, ao conhecer os enteados, tentará agradá-los, respeitá-los, dar-lhes carinho e cuidar deles tão bem quanto seus pais. Jamais se cogita em substituir uma mãe viva. Ao contrário dos contos de fadas, onde a madrasta entrava em cena, quando o homem ficava viúvo, aí se tornava a mãe substituta.

O problema é que a madrasta nem sempre será bem-vinda. As pessoas gostam de achar problemas aonde não existe, gostam de ser vítimas e achar culpados.

As madrastas sofrem muito devido ao excesso de comparação, pois em tudo que ela for pior que a primeira esposa ela será criticada e em tudo que for melhor ela será odiada. Dificilmente agradará: isto é uma maneira inconsciente que os filhos encontram de demonstrar para a mãe que ela é melhor. Mas isso, a longo prazo, gera infelicidade e distancia as pessoas.

E é doloroso entrar em um relacionamento onde sem ao menos conhecerem a nova mulher do pai, ela já é vista e rotulada como a madrasta dos contos de fadas.

A realidade é mais fácil se for vista do coração e não por meio de crenças ultrapassadas de que, pelo simples fato de ser uma segunda esposa, consequentemente é má, veio fazer o mal ou veio explorar o outro. E a maioria das madrastas entram com as melhores das intenções, entram para somar e agregar valores. O mundo não pode ser visto como se a maioria das pessoas fossem ruins. Ao contrário, a maioria das pessoas são boas e querem o bem.

 

Nunca sonhei em ser madrasta e ter uma madrasta, mas a vida me colocou nesta posição. Eu, como enteada, vejo em minha madrasta uma segunda mãe e uma amiga e, o fato de aceitá-la é a forma que existe para eu demonstrar respeito pelo meu pai. É a forma de demonstrar para minha mãe que o meu coração é grande demais e que é possível amar as duas e de formas diferentes. Minha querida madrasta Eliza é a mulher que está ao lado do meu pai há quinze anos, cuidando dele. Não seria justo eu querer fazer da vida deles um inferno. Como não desejo isso para a minha vida.

Os enteados deveriam passar a respeitar mais seus pais e parar de culpar as madrastas por tudo que acontece em suas vidas, deveriam também parar de fazer julgamentos. Pois a partir do momento que você julga alguém, você será julgado; a partir do momento que apontar o dedo em direção a alguém terá de volta três dedos das mãos apontados para você. O coração de todo mundo é grande e cabe muitos pais e muitas mães. E a vida é curta demais para viver cultivando o ódio, culpando o pai por uma separação de anos ou até décadas. A vida é curta para não virar a página, para ficar rabiscando em coisas que já deveriam estar superadas. Amar só faz bem! Então: ame. “Perdoe o que puder ser perdoado e esquece o que não tiver perdão”. Engenheiros.

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